30 de julho de 2015

Com a estagnação do país em 2015, 1,2 milhão de pessoas serão demitidas

Taxa de desocupação subiu de 5,1% em fevereiro de 2014 a 5,9% no mês passado. Para as trabalhadoras, atingiu 6,9%. E chegou a 16,1% na faixa de 16 a 24 anos
Foto ilustrativa
Com a estagnação do país em 2015, 1,2 milhão de pessoas serão demitidas. Taxa de desocupação subiu de 5,1% em fevereiro de 2014 a 5,9% no mês passado. Para as trabalhadoras, atingiu 6,9%. E chegou a 16,1% na faixa de 16 a 24 anos SIMONE KAFRUNI
Último bastião do governo Dilma Rousseff, o baixo índice de desemprego não resistiu à estagnação do país e começou sua derrocada, em linha com todos os outros indicadores econômicos, que se deterioraram antes. O ano começou com demissões em massa e, até que termine, mais de 1,2 milhão de trabalhadores terão perdido seus empregos, conforme a consolidação de estimativas dos principais setores da economia. O nível de desocupação cresce assustadoramente no país, algo decorrente não só da Operação Lava-Jato e da suspensão de pagamentos da Petrobras a fornecedores, como quis minimizar o ministro do Trabalho, Manoel Dias, ao divulgar o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de fevereiro. Os dados apontaram o fechamento de 84 mil postos de trabalho apenas no primeiro bimestre do ano.
Desde o fim do ano passado, vários setores estão demitindo fortemente (leia quadro). Além das empresas vinculadas à Petrobras, o setor automotivo, a construção civil, os serviços, as mineradoras e as metalúrgicas também estão em maus lençóis por conta da fraca atividade econômica do país. Em 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ficou estagnado, com avanço de apenas 0,1%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2015, a perspectiva do mercado é de retração de 1,5%, enquanto o Banco Central estima queda de 0,5% no PIB.
Os setores produtivos mais afetados pela conjuntura econômica iniciaram as demissões para cortar custos. A construção civil, que já demitiu 250 mil trabalhadores nos últimos cinco meses, deve fechar mais 300 mil postos em 2015, projeta o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon-SP). O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada estima que, pelo menos, 20,1 mil trabalhadores de 38 empresas, em sete projetos da Petrobras, tenham sido demitidos nos últimos meses. Quase 2 mil mineradores perderam seus empregos. O setor automotivo, que já demitiu 12,4 mil pessoas em 2014, deve cortar mais 350 mil vagas. Apenas em fevereiro, o setor de serviços, o que mais emprega no país, fechou quase 200 mil postos de trabalho.
Unanimidade
Todas as pesquisas que apuram desemprego no país são unânimes em mostrar o aumento da desocupação, até mesmo o levantamento do Departamento Intersindical de Estatístisca e Estudos Socioeconômicos (Dieese), fortemente ligado ao PT. A taxa apurada pela entidade cresceu para 10,5% em fevereiro na região metropolitana de São Paulo. “O mercado de trabalho deverá sofrer grande impacto com as medidas de ajuste implementadas pelo governo”, afirma o boletim da entidade.

O IBGE revela que a taxa de desocupação passou de 5,1% em fevereiro de 2014 para 5,9% no mesmo mês de 2015. “O desemprego no país segue em alta no início do ano e registra, pela primeira vez desde 2011, queda no rendimento dos trabalhadores”, aponta a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Até o fim do ano, deverá subir ainda mais. Há quem estime que poderá atingir 8%.
Os mais afetados pelo desemprego até agora, segundo o IBGE, são mulheres e jovens. Enquanto para homens, o desemprego passou de 4,7% em janeiro para 5% em fevereiro, entre as mulheres subiu de 6% para 6,9%. E, para a faixa entre 16 e 24 anos, o índice saltou de 11% em dezembro para 16,1% em fevereiro.
O setor de serviços foi o que mais dispensou em fevereiro, de acordo com o IBGE, com queda de 3,7% no número de empregados e dispensa de 165 mil pessoas. O auxiliar de cozinha Patricio Wanderson, de 26 anos, perdeu o emprego porque o restaurante em que trabalhava fechou as portas. Ozinelia Barros da Fonseca, de 49 anos, conta que a idade atrapalha a recolocação. “É mais uma barreira, como se a gente não tivesse mais utilidade. Fui caixa de supermercado, mas me demitiram quando acabou o contrato de experiência”, diz ela, que procura vaga desde outubro.
Serviço de demissão
A gerente de projetos da Thomas Case & Associados, Rose Corretori, diz que a procura pelo serviço de condução de grandes demissões aumentou muito, sobretudo para áreas operacionais da indústria. “Nós somos procurados para fazer o desligamento e buscar recolocar os profissionais no mercado. Mas este ano está difícil, com mais demissões do que admissões. Empresas estão fechando áreas inteiras e não têm como manter nem os profissionais mais qualificados”, revela.
Sem obras, fim de 300 mil vagas
Responsável pelo maior contingente de trabalhadores com pouca qualificação, a indústria da construção civil está em recessão. O presidente do Sinducon-SP, José Romeu Ferraz Neto, contabiliza 270 mil demissões em 2014 e estima o fechamento de mais 300 mil postos este ano. “Todos os segmentos do setor estão com problemas”, explica. Na área imobiliária, a insegurança dos compradores por conta da economia do país está postergando os negócios. “Há queda de 30% nos lançamentos. As empresas estão com estoque alto”, diz Ferraz Neto. Na área de construção, o setor se ressente da falta de repasses do governo para o programa Minha Casa, Minha Vida. “Há um atraso de 60 dias na liberação dos recursos”, assinala.

Ferraz Neto também ressalta que, na área de infraestrutura, a indústria da construção está sentindo o efeito da Operação Lava-Jato. “A maior parte das empreiteiras está envolvida. O governo deveria abrir o mercado e desonerar o setor”, defende. O advogado especialista em construção civil Marlon Ieiri, do escritório L.O.Baptista SVMFA, alerta que o momento é muito difícil para o setor. “Não só pela Lava-Jato, mas pela conjuntura econômica. As obras não estão saindo do papel. Os estoques estão altos e as companhias estão demitindo. O problema maior é que o desemprego aumenta justamente na classe de trabalhadores mais desqualificados”, revela.

Natalia Cotarelli, economista da BI&P, explica que a indústria automotiva está estagnada e a queda nas vendas de veículos é responsável pela demissão no setor. “A tendência é que essa desaceleração continue”, projeta. Conforme a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de veículos em 2014 recuou 15,3% e 12,4 mil trabalhadores foram demitidos. A Força Sindical estima que a cadeia automotiva demita 20% da mão de obra este ano, cerca de 350 mil trabalhadores.

Comércio

Além do desemprego, a renda não deve ter crescimento real este ano, aponta o professor de Finanças da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli. “As demissões aumentaram e a tendência é a substituição de mão de obra de salários altos por trabalhadores mais baratos”, observou. Para o economista da CNC, Fábio Bentes, esse movimento já começou. “A deterioração do mercado de trabalho está muito forte. Comércio e serviços, que estavam segurando bem antes, agora foram contaminados pela fraca atividade do país”, diz. Enquanto os setores geraram 390 mil empregos em 2014, para 2015 a perspectiva é fechar 100 mil postos de trabalho.

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